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Cão e automóvel – parte II

Veja as dicas de como tornar mais agradáveis e seguros os passeios de carro, tanto para você quanto para seu cão, em continuação ao artigo da edição passada que explicava o porquê de os cães adorarem ou odiarem esses passeios

Deixar o cão sozinho no carro, seja para pagar uma conta no banco, seja para dormir num hotel, é uma prática criticada por muitos. Mas é extremamente comum na vida das pessoas. Principalmente daquelas acostumadas a passar muito tempo com seus animais e a viajar com eles. Nessas ocasiões, acidentes podem acontecer. Para evitá-los, é importante conhecer os riscos mais freqüentes, independentemente de o cão gostar ou não de passear de automóvel.

Efeito estufa
Quando o carro é deixado sob o sol, mesmo que por pouco tempo, transforma-se numa verdadeira estufa ou sauna. Por isso, são comuns os casos de cães que morrem por hipertermia (calor excessivo) depois de terem sido trancados num automóvel estacionado sob sol. Jamais deixe o seu cão num carro fechado quando houver a possibilidade de o sol incidir sobre o automóvel. Lembre-se: um dia chuvoso pode virar um dia ensolarado em pouco tempo e as sombras mudam de lugar à medida que muda a posição do sol.

Apesar de a maioria das pessoas ficar apreensiva com a possibilidade de faltar ar para o cão dentro do carro, isso é dificílimo de acontecer. A vedação dos automóveis não é tão boa a ponto de não permitir nenhuma troca de ar. Além disso, basta uma frestinha minúscula na janela para impedir que o problema aconteça.

Outro mito é que o carro fechado se esquenta sozinho, até a temperatura ficar insuportável em seu interior. O fato é que, se o carro estiver em lugar escuro, a temperatura interior será semelhante à exterior. Com a presença do cão, a temperatura interior tende a ficar um pouco mais alta já que o organismo produz calor. Mas o problema só se agrava se o carro for muito pequeno ou se as janelas estiverem completamente fechadas ou, ainda, se houver vários cães dentro.

Guia e enforcador
Um cão não deve ser deixado sem supervisão quando estiver com guia ou enforcador, acessórios que podem enroscar em algo e enforcá-lo, ou quando se encontrar em situação desconfortável, que possa causar desespero, levando-o a se machucar. Esses tipos de acidente têm maior chance de acontecer no carro. Um cão sem supervisão pode pular de um lado para outro e facilmente se enroscar. Se for preciso deixar o animal sozinho no carro, mesmo que por pouco tempo, deve-se tirar antes o enforcador ou a guia dele. Quanto á coleira, recomendo que seja deixada sempre no cão e que contenha o nome dele e o telefone do dono.
Carro em movimento
Procure imaginar os piores cenários e prepare-se para eles. Assim, caso ocorram, você estará em situação privilegiada, que lhe permitirá agir com muito mais calma e segurança. Lembre-se de que diversas vidas poderão estar em jogo com o carro em movimento. Incluindo a sua e a do seu cão. A melhor maneira de evitar acidente é deixar o cão contido, de modo que não possa circular de um lado para outro no interior do veículo. Levá-lo dentro de uma caixa de transporte ou preso em um cinto de segurança próprio para cães são ótimas maneiras de transportá-lo. Caso o cão esteja com guia, certifique-se de que ele não consegue ir para o banco da frente nem pular a janela ou ter acesso a qualquer coisa perigosa.

Cão sob o pedal do freio ou em cima do freio de mão: uma fração de segundo pode ser preciosa durante uma situação de risco de acidente. Se não houver tempo para tirar o cão do colo ou para evitar que entre em baixo dos pedais, por exemplo, o resultado pode ser desastroso. Grande parte dos acidentes ocorre porque o motorista fica impedido de usar imediatamente o freio do carro.

Cão histérico ou que ataca transeuntes: o cão que late e pula de um banco para outro tira facilmente a concentração do motorista. Isso, obviamente, aumenta a chance de acidente. Alguns cães tentam atacar qualquer pessoa que chega perto do carro. Infelizmente, o ataque não ocorre só contra o ladrão que quer invadir o carro e dominar o motorista. Ocorre também contra crianças pedindo dinheiro no farol e contra um amigo que se aproxima para cumprimentar você, por exemplo.

Cão que pula pela janela: diante de um estímulo irresistível, o cão pode resolver pular pela janela do carro. Não é preciso dizer que esse comportamento é extremamente perigoso. Principalmente se o carro estiver em movimento ou em lugar bastante movimentado. Por isso, nunca deixe o cão saltar pela janela do carro, mesmo que o automóvel esteja dentro de um parque ou em situação totalmente segura. Pular pela janela é um hábito demasiadamente perigoso e deve ser totalmente inibido.

Revista Cães & Cia, n. 350, julho de 2008

Alexandre Rossi é zootecnista, especialista em comportamento de animais e autor dos livros Adestramento Inteligente e Os segredos dos gatos.

Leia também Cão e automóvel – parte I.

Cão e automóvel – parte I

Descubra o que leva os cães a adorar ou a odiar os passeios de carro e entenda os motivos de alguns comportamentos exibidos por eles dentro dos veículos

Muitos cães andam de carro. Seja para ir a um parque ou a uma consulta veterinária, seja para acompanhar seus donos numa viagem. Neste artigo, procuro desvendar alguns mitos relacionados com os cães que “passeiam” de carro e dar dicas valiosas para os proprietários deles.

Seu cão é apaixonado por carro?
Para quem não conhece bem os cães, essa pergunta pode parecer um tanto esquisita. Mas o fato é que a grande maioria dos cães ama estar dentro de um carro! Não estranhe, portanto, se o seu cão tiver essa paixão ou se ele vier a desenvolvê-la. Existem vários motivos que podem levar um cão a adorar os passeios de automóvel.

Toca do grupo
Cães são animais sociais, que se sentem bem em grupo e que gostam de se abrigar em tocas. O carro, para os cães, é uma toca do grupo e estar dentro dela é uma garantia de fazer parte integrante desse grupo.

Toca que passeia
Além de o carro fazer o cão se sentir seguro e de proporcionar a ele a companhia do grupo do qual faz parte, ainda o leva para passear. Essa é uma combinação maravilhosa para os cães que querem estar perto das pessoas e, ao mesmo tempo, desejam se sentir protegidos em uma toca e dar uma voltinha. Se não bastasse, a toca ambulante pode levá-los para lugares legais como um parque, um sítio ou uma fazenda!

Nem todos gostam
Há uma pequena parcela de cães que não gosta de passear de carro. Isso acontece quando o automóvel é associado a coisas ruins, principalmente a medo e a enjôo.

Alguns cães com medo de carro o vêem como uma toca que passeia ao lado de outros carros e caminhões. Um cenário que pode ser assustador! Para piorar, a toca ainda pode levar o cão até uma consulta veterinária, que para ele não é nada prazerosa (e alguns cães só são postos no carro para serem levados para esse tipo de destino).

Quanto a sentir enjôo – sensação extremamente desagradável produzida em alguns cães pelo balanço e movimento do carro -, é fácil entender que uma associação negativa tende a aparecer com o tempo. Quando isso acontece, o cão pode começar a sentir enjôo somente por entrar no automóvel, antes mesmo de o motor ser ligado.

Aumento da agressividade
Muitos cães, até mesmo alguns bastante dóceis, em determinados momentos manifestam agressividade quando estão dentro do carro. Isso ocorre porque os cães tendem a ficar mais agressivos se houver algo muito valioso para defenderem e, se ao mesmo tempo, se sentirem seguros. É provável que existam poucas coisas que sejam mais importantes para um cão proteger do que a “toca móvel” dele. E estar nela, juntamente com o grupo, protegido por janelas resulta numa enorme sensação de segurança.

Normalmente, a agressividade se manifesta quando alguma pessoa se aproxima do carro. Mas também pode ocorrer se alguém tenta tirar o cão desse espaço tão precioso para ele. Nesses momentos, o próprio dono corre risco de ser mordido.

Assento nobre
Em geral, quando o cão é deixado sozinho no carro por algum tempo, às vezes por menos de 5 minutos, elege o banco do motorista como o lugar predileto para se sentar ou deitar. Isso acontece porque o local é percebido como o mais disputado do carro, aquele que nunca fica vago. Entre os assentos do veículo, é também o que mais tem cheiro das pessoas preferidas pelo cão, odor que o ajuda a relaxar enquanto fica sozinho.

Perigos
Tudo na vida tem um lado positivo e outro negativo. O mesmo se aplica à combinação de cães com automóveis. Levar o seu cão para passear de carro é ótimo, mas é importante ter consciência dos riscos envolvidos e fazer de tudo para evitar que ocorram acidentes. Afinal, estão em jogo a vida do cão, do dono e de outras pessoas. Alguns acidentes mais comuns relacionados com a presença canina em automóvel são: cão com insolação por ter sido deixado em carro fechado sob sol forte; cão que pulou pela janela; cão que atacou transeunte; e, ainda, motorista que bateu o carro porque o cão atrapalhou.

É sobre como prevenir e evitar acidentes que irei escrever a minha próxima coluna. Darei também dicas de como fazer o cão gostar de carro, quando não gosta, e de como ensiná-lo a nunca sair do carro sem permissão nem saltar pela janela.

Revista Cães & Cia, n. 349, junho de 2008

Alexandre Rossi é zootecnista, especialista em comportamento de animais e autor dos livros Adestramento Inteligente e Os segredos dos gatos.

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Lidando com a gravidez psicológica

A cadela começou a raspar cantinhos da casa, simulando cavar? Protege uma área ou objeto? Fica ansiosa e choraminga? Atitudes como essas, aliadas a uma eventual falta de apetite, podem indicar gravidez psicológica caso não tenha ocorrido acasalamento. Alexandre Rossi explica o que se pode fazer quando a gravidez é psicológica.

A gravidez psicológica, ou pdeudociese, ocorre em mais de 50% das cadelas não castradas. Além das mudanças comportamentais, ela causa alterações físicas, como o desenvolvimento das glândulas mamárias e a produção de leite, chegando a surpreender muitos proprietários. Como isso foi acontecer se a fêmea nem esteve com um macho? 

Como surge?
Do ponto de vista fisiológico, a gravidez psicológica é um engano do organismo. É gerada por alterações hormonais, capazes por si só de influenciar o comportamento e o desenvolvimento de tecidos mamários. Portanto, para que a “gravidez” ocorra, não é preciso haver filhotes no útero.
A confusão parece acontecer quando diminui bruscamente o hormônio progesterona, presente durante o cio e por mais dois meses. Quando a cadela está para dar a luz, cai o nível de progesterona, o que estimula a produção do hormônio prolactina. A prolactina, por sua vez, age no tecido mamário, podendo ativar a produção de leite e também causar o comportamento maternal. É comum as cadelas desenvolverem gravidez psicológica após a castração, se realizada até três meses depois do início do cio. Com a retirada dos ovários, que produzem a progesterona, há a interrupção da produção desse hormônio e a liberação da prolactina pela hipófise, localizada no cérebro. 

Por que é comum?
À primeira vista, fica difícil imaginar como a gravidez psicológica se tornou comum na espécie canina. Mas, se pensarmos numa alcatéia (grupo de lobos), a coisa fica mais fácil. Nela, só os indivíduos dominantes costumam se reproduzir. E eles, tanto os machos como as fêmeas, são também os melhores e mais corajosos caçadores.
As lobas não dominantes que desenvolviam gravidez psicológica podiam cuidar, com perfeição, dos filhotes das fêmeas dominantes, já que apresentavam os comportamentos necessários para tal, e até amamentavam. Graças a essa ajuda, as fêmeas dominantes podiam caçar e conseguir alimento para o grupo. Com isso, as fêmeas que cuidavam dos filhotes se aproximavam afetivamente da líder e desenvolviam um bom relacionamento com a próxima geração. E ser influente numa alcatéia é importante para a sobrevivência e para a escalada hierárquica. 

O que fazer?
Quando ocorre a gravidez psicológica, há quem deseje interrompê-la para a cadela voltar logo ao normal. Medicamentos que inibem a prolactina fazem cessar rapidamente a produção do leite e o comportamento maternal.
Sem medicação, a gravidez psicológica costuma terminar em duas semanas. Alguns proprietários preferem aproveitar essa fase para admirar o comportamento materno das suas cadelas. Apreciam vê-las adotar e proteger os filhotes imaginários, na forma de bichos de pelúcia, de bolinhas e até de controle remoto de TV! Uma das atitudes destinadas à proteção dos filhotes é cavar – serve para lhes preparar uma toca. 

Devemos retirar os filhotes imaginários?
Algumas pessoas, para impedir que a cadela adote objetos, têm atitudes como tirá-la do cantinho que escolheu e esconder seus brinquedos. Tais procedimentos podem aumentar a ansiedade da cadela e estimular comportamentos compulsivos. Deixá-la a vontade é a maneira mais respeitosa de lidar com a situação. 

Evitar agressividade
A cadela pode ficar com ciúme dos filhotes imaginários e se tornar agressiva para protegê-los. Mostre que você não irá roubá-los. Para isso, ao se aproximar dela, ofereça um petisco ou brinquedo. A maioria das fêmeas deseja a aproximação de alguém que, além de não ser ameaça, traga coisas gostosa. 

Complicações com as mamas
O aumento das mamas é normal durantes a gravidez psicológica e o leite produzido acaba sendo reabsorvido pelo corpo da fêmea. Mas às vezes ocorre a mastife – inflamação nas glândulas mamárias. Por isso, se surgirem carocinhos, dores ou pele avermelhada, não deixe de consultar um médico-veterinário. A produção de leite pode aumentar ou durar mais tempo se as mamas forem estimuladas. É melhor, portanto, evitar manuseá-las. E se a cadela praticar auto-sucção das mamas, pode ser recomendado impedi-la com um colar elisabetano (posto em volta do pescoço torna impossível o contato da boca com o próprio corpo).

Revista Cães & Cia, n. 315, agosto de 2005

Alexandre Rossi é zootecnista, especialista em comportamento de animais e autor dos livros Adestramento Inteligente e Os segredos dos gatos.

Dicas para introduzir mais um gato em casa

Sua casa já tem gato e você deseja trazer mais um? Veja as dicas para aumentar as chances de os veteranos se darem bem com o novato

Nem sempre os gatos que temos em casa aceitam bem um gato recém-chegado. E o novato, por sua vez, pode prejudicar a harmonia existente entre os veteranos. Por isso, mesmo quando o risco de brigas parece pequeno, a recomendação é fazer uma aproximação controlada entre novato e veteranos.

Evitar confrontos é sempre bem melhor do que passar por eles e pelas experiências desagradáveis que podem produzir, entre as quais a redução drástica das chances de convivência pacífica, dependendo do temperamento dos gatos envolvidos. Tanto que muitos proprietários, depois de tentar uma reaproximação pós-briga, acabam por preferir separar os gatos adversários, mantendo-os em ambientes diferentes.

Quando não dá para garantir o bem-estar dos gatos que ficam juntos, separá-los passa a ser a melhor alternativa, inclusive recomendada por mim. Todo gato doméstico deve se sentir livre para usar a caixa de areia, beber, comer, brincar e dormir sem se preocupar demais com um possível ataque de outro membro do grupo.

Recinto para o novato
Para a aproximação dos gatos ocorrer com o mínimo de estresse, a primeira providência é separar um quartinho ou um banheiro para ser ocupado como moradia temporária pelo novato. Num dos cantos do recinto, coloca-se uma caminha macia, junto com o potinho de água e o de comida. Do lado oposto, instala-se a caixa sanitária (caixa com areia). Nunca se põe a caixa sanitária ao lado da caminha, da água ou da comida.

À prova de escape
Gato novato que escapa do seu recinto e gatos veteranos que entram nele, aproveitando um descuido, são os acidentes mais comuns que vejo. É preciso evitar o contato não planejado entre veteranos e novato. Se ocorrer um grande susto ou uma briga entre eles, o sucesso da aproximação poderá ficar bastante comprometido.

Para não facilitar escapes, não permita que os gatos veteranos fiquem de tocaia na porta do recinto do novato, principalmente quando for abri-la. Tenha consigo um borrifador de água ao passar por ela – se um gato se aproximar demais, espirre água nele. Em pouco tempo, os gatos perceberão que é para ficarem afastados daquela porta.

Recomendo também pôr nela um aviso grande, na altura dos olhos dos passantes, alertando que há um gato recém-chegado e que não deve escapar. Se possível, tranque a porta, mesmo que a chave seja deixada na fechadura, servindo apenas para diminuir a chance de alguém passar sem ter os devidos cuidados.

Novato na caixinha
Quando o novato estiver comendo, bebendo, dormindo, brincando e usando a caixa de areia normalmente, é porque se adaptou ao novo recinto. Um novo passo pode ser dado.

Ponha o gato novato numa caixinha de transporte, de preferência numa à qual ele já esteja acostumado. Leve-o para fora do quartinho e fique com a caixa bem próxima a você. O ideal é que, nesse momento, os gatos recebam coisas bem gostosas para comer, inclusive o novato, dentro da caixa. Faça brincadeiras e agrade tanto os veteranos quanto o novato. Com o tempo, os gatos deverão relacionar os petiscos, as brincadeiras e os agrados à presença dos membros do grupo, incluindo o novato.

Para a comida produzir a associação positiva, é preciso que os gatos a ingiram. Por isso, deve ser bem gostosa e é melhor que eles estejam há algum tempo sem comer, para terem apetite suficiente (o apetite diminui em situação nova ou estressante).

Ao mesmo tempo, os gatos deverão desenvolver receio de atacar qualquer outro gato ou de fazer aproximações bruscas. Aquele que tentar isso leva umas belas esguichadas com o borrifador. O treino pode ser repetido várias vezes por dia, monitorado em tempo integral, e, no final, o novato deve retornar para o espaço só dele.

Solto com supervisão
Quando não houver mais comportamentos agressivos entre os gatos veteranos e o novato, situação que pode levar alguns dias ou até semanas para acontecer, é hora de dar o próximo passo.

No mesmo ambiente do treino anterior, abra a caixa de transporte e permita que o novato saia dela. De preferência, estimule-o a comer petiscos bem gostosos fora da caixa de transporte. Fique completamente atento. A chegada dos demais gatos deve ser gradual e amistosa. Caso contrário, a agressividade é impedida com o jato de água. Terminado o exercício, o novato volta ao recinto dele.

Repita essa etapa quantas vezes for preciso, até você ganhar confiança e resolver deixar o novato junto com os veteranos, sem supervisão.

Revista Cães & Cia, n. 347, abril de 2008

Alexandre Rossi é zootecnista, especialista em comportamento de animais e autor dos livros Adestramento Inteligente e Os segredos dos gatos.

Como lidar com as mordidas de filhotes

Filhotinhos são engraçados, fofinhos e brincalhões, mas também são mordedores. É difícil achar alguém que tenha um filhote de cachorro e não esteja com a mão toda arranhada por causa dos ataques de dentes afiadíssimos. Raramente os filhotes mordem com a intenção de machucar. O que eles querem é interagir e cabe aos pais “humanos” ensinarem outras maneiras de melhorar o contato com eles.

O grande truque para solucionar qualquer problema de comportamento é, em primeiro lugar, entender o motivo que leva ao comportamento indesejado, pois não adianta tentar impedi-lo sem fornecer alternativas. O cãozinho precisa interagir, mastigar e aliviar seu desconforto e ansiedade. Ele sabe fazer isso com a boca e, por mais que sua bronca seja bem dada, o cão dificilmente irá respeitá-lo se não tiver maneiras de substituir ou redirecionar esses comportamentos.

E como podemos fazer isso? O primeiro passo é presentear o filhote com inúmeros brinquedos de diversos tamanhos, texturas, gostos e cheiros. Certifique-se de que há objetos disponíveis em todos os ambientes que o cão freqüenta, pois a ansiedade e a coceira podem aparecer a qualquer instante.

No entanto, é claro que a nossa mão é muito mais legal do que a maioria dos brinquedos, porque dificilmente o cãozinho não consegue nossa atenção quando morde nossa mão; ao passo que, ao morder seu ossinho sos-se-gado no seu cantinho, raramente faz com que tenhamos uma ação direta nele. É preciso mostrar que morder os brinquedos também é uma ótima forma de conseguir atenção. Quando seu filhote optar por morder um brinquedo, fale o nome dele, corra atrás e brinque com ele. Pare a interação assim que o pet soltar o objeto e volte a brincar assim que ele pegar o brinquedo novamente.

Um truque para ajudar a aliviar a aflição da coceira na gengiva é dar brinquedos congelados. Congele alguns objetos e dê ao seu cachorro: os cães costumam adorar e o gelado alivia mais rapidamente o desconforto da gengiva. Para que os brinquedos fiquem mais interessantes, eles devem nos representar – para isso, você também deve brincar com o objeto e, principalmente, deixar o seu cheiro nele (não é preciso esfregá-lo debaixo do braço! O olfato dos cães é muito melhor que o nosso).

Mesmo com todas essas dicas, sua mão provavelmente ainda vai continuar sendo o melhor brinquedo. Agora que o filhote tem diversas opções, devemos tornar nossa mão desagradável de ser mastigada. Para conseguirmos isso, podemos associar o morder a mão com algo desagradável, que aconteça, de preferência, no mesmo instante da mordida. Assim o cão vai testar a mão num momento e testar os brinquedos em outro momento. Com os objetos, vai conseguir tudo o que quer, inclusive atenção, e toda vez que morder a mão sentirá um desconforto imediatamente.

Uma das maneiras práticas e seguras de provocar um desconforto no cão, aproveitando que ele já está mordendo a sua mão, é apertar a língua dele contra o fundo da boca com o dedão. Esse apertão deve ser rápido e só deve acontecer quando o cão morder de fato e nunca como uma maneira preventiva. O apertão deve ser desagradável, mas não deve machucar o animal. Você saberá que o apertão está provocando desconforto observando a reação do filhote. Se você fizer de forma correta, após alguns apertões o cão vai parar de morder a sua mão. Ele provavelmente tentará novamente, mas, assim que sentir o apertão de novo, irá parar.

Procure sempre facilitar o comportamento correto do seu filhote. Ao encontrá-lo, leve algum brinquedo ou estimule-o a ir ao seu encontro com um brinquedo na boca. Como já dissemos anteriormente, é importantíssimo recompensar o comportamento correto e fornecer alternativas para o comportamento que queremos eliminar.

Revista Cães & Cia, n. 310, março de 2005

Alexandre Rossi é zootecnista, especialista em comportamento de animais e autor dos livros Adestramento Inteligente e Os segredos dos gatos.

Anjos de quatro patas

Nas ruas, no metrô e até no cinema. A primeira geração de cães-guia paulistanos confere autonomia a cegos.

A advogada Thays Martinez, na Livraria Cultura. Luta para que Bóris, seu labrador, entre em qualquer local público. Nina é a primeira cadela paulistana em treinamento para conduzir um cego. Os outros quinze cães-guia que circulam pela cidade foram importados de países como Estados Unidos e Austrália ou adestrados em outros estados. De porte esguio e olhar atento, a cachorrinha sobressaiu em uma ninhada de oito labradores. Embora não fosse a líder dos irmãos, mamava com vontade e gostava de brincar. Atualmente, aos 10 meses, vive na casa da família Martinez. Não é, contudo, um animal de estimação comum, daqueles que ficam no colo ou soltos no quintal. Já teve lições de obediência, aprendendo que é proibido morder objetos e subir no sofá (apesar de, às vezes, sair da linha e roubar umas meias do armário). Nina acompanha a rotina de trabalho de Rita, secretária de um estaleiro. “Ela fica quietinha embaixo de minha mesa”, conta. Nos fins de semana, vai junto ao supermercado, ao clube e à casa de parentes. “Até mostrar maturidade para ser adestrado, o cachorro aprende a conviver no meio de pessoas”, explica a treinadora Alexandra Fiuza.

Kátia Marques e Genival Santos. Eles namoram e seus cachorros também. A preparação de um cão-guia chega a levar dois anos. Inclui a fase de socialização e o adestramento propriamente dito. Tanto machos quanto fêmeas podem ser condutores, desde que castrados. Dá-se preferência às raças labrador, golden retriever, collie, boxer e pastor alemão. Existe apenas uma escola para treinar tais animais no país. Fica em Brasília e pertence à ONG Integra. Lá há uma espécie de minicidade para simulação de percurso, com os cachorros sendo instruí-dos a contornar buracos, desviar-se de orelhões e atravessar a rua. A Integra teria de doar os animais, como é praxe no mundo inteiro. Mas a entidade também os vende, já que encontra dificuldades para levantar recursos de patrocinadores. “O custo de preparação de um cão-guia é de cerca de 25000 reais. Nós cobramos no máximo 15000 reais do usuário”, diz o instrutor Carlos Alberto Dias, um dos três brasileiros que têm tal especialidade, com diploma internacional. Essa é uma questão polêmica. “Considero antiético favorecer os que podem pagar”, afirma a advogada Thays Martinez, que conquistou autonomia a ponto de morar sozinha após ter ganhado Bóris, seu labrador caramelo. “O cão-guia pode ser comparado ao transplante de córnea.”

Nascida para guiar. Até completar 1 ano, a cadela Nina viverá na casa dos Martinez e terá lições de obediência com a adestradora Alexandra Fiuza (à esq.) Thays é co-fundadora do Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social (Iris), com sede na Vila Leopoldina. Sua batalha pela causa dos cegos teve início no dia em que foi impedida de embarcar com o cachorro na estação Marechal Deodoro do metrô, em 2000. De lá para cá, ela conseguiu duas vitórias: a instituição da lei federal que permite a entrada de cães-guia em qualquer local público e a importação de doze deles por meio de uma parceria da Iris com o grupo Leader Dogs for the Blind, de Michigan, nos Estados Unidos. “É apenas o começo, pois há 2000 pessoas na lista de espera”, diz ela, que está empenhada na tentativa de criar cães-guia em São Paulo. Como se nota pela repetição do sobrenome Martinez, Thays envolveu o irmão, a cunhada e os sobrinhos em seu projeto. São eles os zelosos criadores da filhote Nina.

Na minúscula comunidade dos usuários de cães-guia, há um jovem casal cujos cachorros também “namoram”, segundo eles. O advogado Genival Santos e a bancária Kátia Marques são os donos de Laila e Sam, respectivamente. “Quando saímos para passear, fazemos muito sucesso”, afirma ele. “Mas eu não gosto muito que as pessoas venham brincar com os cães”, reclama ela. O motivo é simples: o cachorro se desconcentra. E sempre há uma lixeira ou uma lanchonete por perto para atiçar sua fome. Quando Santos e Kátia começaram o namoro, há pouco mais de um ano, eles ainda usavam bengala. O instrumento às vezes os deixava na mão. Santos conta que já marcou encontro com Kátia numa estação de metrô e não conseguiu encontrá-la. “No corre-corre, ninguém ajudava e o celular não pegava.” Agora está mais fácil, pois Sam corre em direção a Laila e os casais partem contentes. Gostam de ir ao cinema (dublado) e já foram ao zoológico. Livres da bengala, eles não têm mais topado com orelhões e outros obstáculos no meio do caminho. “Até pensei em comprar um capacete”, brinca Santos.

Fonte: Veja São Paulo
Imagens de Fernando Moraes

Como evitar que o gato demarque o território

Veja as dicas de Alexandre Rossi para manter afastadas do gato as motivações que levam à demarcação.

Os gatos, como diversos outros animais, podem urinar e defecar para fazer demarcação do território e, assim, atrair parceiros sexuais, afastar competidores e reconhecer mais facilmente objetos e áreas novas. Essa prática, funcional para os gatos em determinadas circunstâncias, costuma produzir cheiro bastante desagradável para os humanos. Mas, felizmente, é possível evitar a demarcação adotando algumas técnicas.

Reconhecimento da demarcação
Ao contrário do que faz quando deseja simplesmente se aliviar, o gato não enterra as fezes e a urina ao demarcar. Para propagar melhor a sua sinalização, ele lança a urina de modo a espalhar bem o odor. Posiciona-se de costas para o alvo e lança um jato direcionado para trás – de um jeito que parece sair do ânus – atingindo facilmente as superfícies, tanto horizontais como verticais. A demarcação com fezes também ocorre, embora seja mais rara. O gato defeca sobre o local no qual deseja deixar a marca dele.

Efeito da castração
Pesquisas demonstram que cerca de 90% dos problemas de demarcação podem ser solucionados com a simples castração. Depois dela, diminui significativamente a concentração de hormônios sexuais no gato e as conseqüentes demarcações para atrair o sexo oposto e para afastar indivíduos do mesmo sexo.

Controle do território
Os gatos são obcecados pelo controle do território. Precisam conhecer cada pedacinho do espaço que lhes pertence. Por isso, quando o ambiente onde vivem é modificado, costumam ficar ansiosos. Sentem necessidade de analisar cuidadosamente o que possa significar perigo para eles – objetos, pessoas, animais e espaços desconhecidos.
Tudo o que é novidade, depois de demarcado, se torna mais facilmente reconhecível em futuras aproximações. Por isso, é comum gatos urinarem em bolsas e malas de visitas, em cortinas e sofás novos, etc.

Introdução de objetos dentro de casa, ou seja, no território do gato
Você pode ajudar a tornar menos assustadores para o felino os objetos recém-introduzidos na casa e, desse modo, evitar despertar nele o desejo de demarcá-los. Por exemplo, ao chegar um sofá novo, transfira para ele alguns cheiros conhecidos. Esfregue no móvel as suas mãos ou outra parte do corpo. Atraia o gato até a novidade – se precisar de ajuda, recorra a petiscos ou catnip, a erva do gato – e faça-o ter contato com o objeto de modo que o odor dele também fique impregnado ali.

A importância da boa sociabilização
Para tornar o gato mais confiante cada vez que estiver diante de uma nova situação, procure acostumá-lo desde filhote a ter contato com diversas pessoas, locais e objetos. Gatos pouco sociabilizados podem achar necessário demarcar sofás, janelas, revistas, etc., sempre que uma visita humana “invadir” o território deles.
Quando bem sociabilizado, o gato tende a aceitar com mais tranqüilidade as mudanças e novidades que ocorrem no hábitat. Ou seja, tem menos necessidade de fazer demarcação cada vez que passa por uma situação nova.

Cuidado com a presença de outros gatos
O gato pode sentir que o território dele está ameaçado ao perceber nos arredores a presença de outro gato. A visita de um exemplar vindo da rua é capaz de fazer o gato da casa se desesperar e urinar por toda parte. Ver um outro gato pela janela às vezes basta para ativar a demarcação. Mas olhar pelas janelas costuma ser um bom entretenimento para o felino – o bloqueio dessa possibilidade só deve ser adotado em último caso.

Como lidar com novos territórios
Estar num local desconhecido pode ser bastante assustador para o gato. Por isso, introduza-o aos poucos num novo espaço. Inicialmente, mantenha-o em cômodo pequeno, com água, comida e caixa sanitária, e vá “apresentando” gradativamente cada nova área. Ele estará pronto para iniciar uma nova inspeção quando demonstrar estar bem ambientado ao que já viu, ou seja, quando estiver comendo, descansando, urinando e defecando normalmente.

Hábitos antigos
Alguns gatos adquirem o hábito de demarcar periodicamente determinados objetos ou locais. Nesse caso, podemos dificultar o acesso aos alvos ou tentar torná-los desagradáveis para o gato. Fita adesiva de dupla face colada sobre uma superfície na qual o gato se apóia pode ser o suficiente para fazê-lo perder o interesse pelo local. Outra técnica é revestir com plástico um objeto habitualmente demarcado. Se a urina, ao ser espirrada, bater no plástico e respingar no gato, ele provavelmente ficará incomodado a ponto de abandonar o hábito.

Revista Cães & Cia, n. 307, dezembro de 2004

Alexandre Rossi é zootecnista, especialista em comportamento de animais e autor do livro Adestramento Inteligente.

Como estimular seu gato a usar a caixa higiênica

Veja, com as dicas de Alexandre Rossi, quais condições são ideais para o gato fazer as necessidades no lugar desejado.

Um pouco de privacidade, por favor.Ao urinar e defecar, o gato opta normalmente por esconder os excrementos, enterrando-os. Nesta edição abordaremos as maneiras de estimulá-lo a fazer isso usando um banheiro de nossa preferência. Na próxima, focalizaremos outra possibilidade – a do gato que deixa dejetos à mostra para demarcar território, atitude relacionada, em geral, com o desejo de atrair parceiros sexuais ou de manter competidores distantes.

Condições motivadoras
A melhor opção de banheiro para o gato dentro de casa é a caixa higiênica. Mas é preciso que ele se sinta motivado a adotá-la para não se aliviar em outros locais. E há vários fatores que podem influenciá-lo nessa decisão.

Banheiro ideal
Existem vários modelos de caixas e substratos em pet shops, próprios para o gato depositar as necessidades e enterrá-las. O ideal é ir descobrindo de quais o seu gato gosta mais, testando as diferentes caixas e substratos bem como os possíveis locais de colocação das caixas.

Quantidade de caixas
Recomenda-se oferecer sempre uma caixa higiênica a mais do que a quantidade existente de gatos. Por exemplo, coloque duas caixas se houver um gato; use três caixas se os gatos forem dois e assim por diante. É aconselhável haver sempre pelo menos uma caixa limpa à disposição, mesmo porque alguns gatos não usam caixas sujas.

Onde pôr a caixa
Os gatos evitam fazer as necessidades perto da água e dos alimentos que ingerem, bem como na proximidade da área onde repousam e na qual os filhotes ficam. Por isso, ponha as caixas higiênicas afastadas desses locais. Se o gato ficar confinado num único recinto, situe a caixa no lado oposto ao de repouso e de alimentação, que podem estar agrupados.
No caso de o gato insistir em usar como banheiro um ponto escolhido exclusivamente por ele, ponha lá a caixa higiênica. E, se o local não for conveniente para você, desloque-a aos poucos, até ficar situada como você quer.

Segurança no banheiro
É importante que o gato se sinta seguro enquanto estiver na caixa higiênica. Por isso, procure colocá-la em locais onde ele não leve sustos. Por exemplo, sem portas que batem, sem corrente forte de ar e sem outro animal incomodando.
Jamais puna um gato enquanto ele estiver usando a caixa higiênica. Gatos sujeitos à aproximação indesejada de cães preferem caixas em locais altos. Há os que gostam mais de caixas cobertas, talvez para obterem maior privacidade.

Se houver mais de um gato
Se você tiver dois ou mais gatos, um poderá inibir o outro de usar as caixas higiênicas sem que se perceba como ele faz isso – gatos são capazes de controlar o território de maneira bastante sutil. Para evitar o problema, coloque as caixas em locais distantes, de modo que não seja possível o controle visual de todas ao mesmo tempo. Dessa maneira, sempre haverá um banheiro disponível para o exemplar mais tímido.

Resumo

  • Adote caixas higiênicas para o gato poder enterrar as necessidades dele.
  • Teste diferentes tipos de caixa e de substratos para conhecer as preferências dos seus gatos.
  • Ponha as caixas em locais onde os gatos se sintam seguros, longe de correntes de ar e de portas que possam bater.
  • Ofereça sempre mais de uma caixa para o seu gato. Se tiver vários gatos, ofereça uma caixa a mais do que o número de gatos.
  • Se houver mais de um gato, a posição de cada caixa não deverá permitir que a partir dela todas as demais caixas sejam controladas visualmente.

Revista Cães & Cia, n. 306, novembro de 2004.

Alexandre Rossi é zootecnista, especialista em comportamento de animais e autor do livro Adestramento Inteligente.

Leia também: Como evitar que o gato demarque território

Cara de um, focinho do outro – continuação

6) Vai receber visitas? Priorize os convidados

Um bom anfitrião deve estar consciente de que seu cãozinho tão fofo pode não ser unanimidade entre amigos e familiares que freqüentam a casa. Nesse caso, para evitar o encontro (quase sempre desastroso) entre uma convidada de vestido fino e meia-calça e um totó ouriçado pulando em sua perna, mantenha os pets presos enquanto as visitas estiverem na casa. “Não é correto impor a presença do cachorro a todos”, ensina a consultora de moda e etiqueta Gloria Kalil. A regrinha vale até para os visitantes que juram não se incomodar com a presença do animal. “O proprietário não deve causar desconforto aos convidados”, diz a consultora Celia Ribeiro, autora do livro Etiqueta no Século XXI, com um capítulo dedicado a donos de bichos. Manter o cão preso evita que ele peça comida à mesa do jantar ou que roube a carne do prato de alguém. Mas o cachorro precisa estar acostumado a ficar sozinho. “Caso contrário, ele pode se sentir abandonado, latir e causar um incômodo ainda maior”, completa o adestrador Dennis Martin.

7) Pense dez vezes antes de levá-los a shoppings e restaurantes

Freqüentadores do Pátio Higienópolis, o paraiso dos totós

Antes de sair por aí com seu cão a tiracolo, tenha certeza absoluta de que ele é bem-educado. Por boa educação entende-se: não latir, não rosnar, não pular nas pessoas, não arrumar encrenca com outros cachorros e não cheirar mal, para ficar no básico. Locais por onde circula muita gente exigem cães socializados. “Alguns estranham o ambiente, o barulho e o excesso de pessoas e podem ficar agitados”, explica o veterinário Mauro Lantzman. Vários shoppings permitem a presença de cães de pequeno e de médio porte em suas instalações. É assim no Iguatemi, no Frei Caneca, no Villa-Lobos e no Higienópolis, o paraíso dos totós. Os dois últimos mantêm sua equipe de limpeza de prontidão para recolher qualquer sujeira à vista. “Para evitar imprevistos, coloco absorvente e calcinha feminina na fêmea”, conta a dona-de-casa Vera Gerusa de Faria, que circulava com seu casal de yorkshires pelo Villa-Lobos no último domingo. A secretária Lêo Canônico, moradora de Higienópolis, sai três vezes por dia com Dolly Maria, sua akita. Vai duas vezes por semana ao shopping. “Ela é o ar que eu respiro”, diz Lêo, que não fica constrangida quando entra em uma loja e sua cadela de 40 quilos se deita pelo caminho. Assim mesmo, toda espaçosa, como mostra a foto abaixo.

40 quilos no meio da loja

E, por favor, nada de dividir a praça de alimentação com o cão. Para não infringir as leis estadual e municipal que proíbem a entrada de bichos em bares e restaurantes, a maior parte dos estabelecimentos tolera a presença deles apenas na calçada ou em ambientes abertos. Nos poucos em que eles são bem-vindos no salão, caso do Farfalla, no Jardim Paulista, o dono tem de redobrar os cuidados. “O animal precisa vir almoçado, para depois não querer participar da refeição”, afirma a proprietária Alice Maria Dutra. Mesmo que a casa permita que o bichinho se sente à mesa, prefira deixá-lo no chão, amarrado à cadeira pela guia. “Venho aqui quase todo fim de semana com os meus cachorros Cristal e Apollo”, conta a jornalista Priscilla Merlino. “A cidade precisava ter mais restaurantes como esse, onde os cães são tratados como clientes.” O chef Alessandro Segato, do italiano Passaparola, na Vila Nova Conceição, até criou um cardápio para os bichos. O que tem para eles no menu? Ossobuco com tutano e arroz selvagem (19,90 reais) e ragu de cordeiro com legumes (23,80 reais), entre outros.

8) Respeite as regras do condomínio

Uma semana na cadeia depois que seus cães mataram dois cachorros da vizinha

O melhor amigo do dono pode ser também um dos piores inimigos dos vizinhos. Sim, queixas sobre cachorros estão entre as cinco reclamações mais freqüentes de moradores de condomínios. “Em todo prédio que eu visito, de todas as classes sociais, há pelo menos uma pessoa que tem problemas com cães”, afirma o advogado Marcio Rachkorsky. Especialista em direito imobiliário, ele arbitra conflitos em cerca de 250 condomínios da capital. Barulho provocado por latidos, sujeira e mau cheiro nas áreas comuns e no elevador são, nessa ordem, os principais motivos de brigas. Como não há lei específica para essas situações, o que vale é o regulamento de cada edifício. O cão vai ficar muito tempo sozinho no apartamento? Para evitar latidos indesejáveis horas a fio, não o prenda na varanda. Procure mantê-lo no quarto para que ele sinta o cheiro do dono e fique tranqüilo. Tente educá-lo para não latir ou chorar cada vez que você entra em casa. “Os seis cães do meu vizinho me enlouquecem todo dia com isso”, diz o promotor de eventos Renato Lucena, morador de um condomínio da Granja Viana. “Já apitei, gritei e até atirei bombinhas, mas nada adiantou. Hoje uso protetor auricular.”

Ação na Justiça contra condominio que não punia dona de cachorro sujão

Playground, jardins, piscina e áreas comuns não são quintal de cachorro, muito menos banheiro. No elevador, de serviço, claro, é educado carregar o cão no colo. Os de grande porte devem ser mantidos na guia e sempre atrás de seus donos, para evitar rosnadas caso entrem outras pessoas. Se o elevador estiver cheio, dispense-o e espere o próximo. Cerca de 90% dos conflitos são resolvidos com diálogo, advertências e, mais raramente, com multas ao mal-educado. Poucos chegam à Justiça, como o caso do administrador Antonio Roberto Testa. Ele decidiu processar seu antigo condomínio, no Campo Belo, por não punir a dona de uma poodle que tinha o mau hábito de sujar as áreas comuns. Depois de oito anos, Testa acabou perdendo a briga na Justiça. “Não foi uma decisão justa, mas não me arrependo”, diz ele, que se mudou do prédio. Mas nem sempre o dono do totó leva a melhor. Há dois anos, o empresário Carlos Eduardo Nahus, morador da Granja Viana, foi condenado à prisão e chegou a ficar uma semana na Cadeia Pública de Cotia. Em 2005, suas duas cachorras atacaram e mataram um pastor alemão e um cocker spaniel da vizinha. “Gastei cerca de 50 000 reais com advogados e tive de doar meus cães”, conta ele, que ainda se defende dos processos. “Ele incentivava as cadelas a pular no meu terreno”, afirma a vizinha, a pesquisadora Devani Salomão. “A morte dos meus cachorros abalou a família.”

9) Mantenha o animal bem tratado

Os cães também precisam espairecer

Deixar seu bicho cheio de carrapatos, sujo, raivoso e preso é uma agressão e um prato cheio para encrencas com quem vive perto dele. Os animais podem transmitir doenças, contaminar o condomínio com fedor e, de quebra, virar motivo de queixas entre os vizinhos. É um direito do cão receber tratamento adequado. Isso inclui registrá-lo no Centro de Controle de Zoonoses – medida prevista em lei – e manter a carteira de vacinação em dia. Habitue-se a levar esses documentos quando sair à rua. Cães que vivem em apartamento, independentemente da raça, exigem banhos semanais e escovação diária. “Isso ajuda a eliminar os pêlos mortos, que causam mau cheiro”, diz o adestrador Alexandre Rossi. Zele também pela saúde psicológica dele. Dê atenção, carinho e ambiente adequado ao bichinho. Não o castigue, não o maltrate e evite mantê-lo acorrentado. Ele pode ficar agressivo. A convivência com as pessoas é fundamental para a boa educação. Por isso, o animal precisa sair para ver gente pelo menos uma vez por dia. Se você não tem tempo para isso, contrate os serviços dos passeadores de cachorros, os chamados dogwalkers. A cada vez que saem para uma voltinha, costumam cobrar 17 reais ou, então, mensalidades que variam entre 200 e 250 reais. “Costumo levá-los a praças para que eles se adaptem também a outros cachorros”, diz o passeador e adestrador Leandro Felipe da Silva, da Mundo Cão.

10) Guarde para você pérolas como: “Ele é mansinho. Só vai te cheirar”

Ninguém é obrigado a gostar de animais ou ter simpatia pelo cachorro do vizinho. Por isso, é constrangedor ouvir que o cão “não faz nada” ou que “ele vai apenas cheirar a sua perna”, como quem fareja um canteiro. Se o au-au tem cara de anjo, mas é anti-social, agressivo, ciumento ou simplesmente não gosta de interagir com estranhos, avise os que se aproximam dele. “Alerte a pessoa mesmo que ela tente só acariciar o bicho”, afirma a veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs. É o que costuma fazer a administradora Rosilene Esteviano sempre que alguém chega perto de sua dachshund Sofia, de gênio extraforte. “Ela já matou dois gatos, comeu passarinhos, mordeu o nariz da minha mãe, meu sobrinho e até um vizinho”, conta Rosilene. Crianças costumam ser mais atrevidas e jamais devem ficar sozinhas com o bicho. Se mesmo assim ele ferir alguém, desdobre-se em cuidados à vítima. “Só pedir desculpas não adianta: é delicado pagar as despesas médicas e presentear a pessoa com flores”, diz a consultora de etiqueta Claudia Matarazzo.

Fonte: Veja São Paulo
Imagens de Raul Zito

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Cara de um, focinho do outro – primeira parte

Diante de uma população de 1,9 milhão de cachorros domésticos (calcula-se que haja mais 2,6 milhões nas ruas, sem dono), não é exagero dizer que eles praticamente tomaram conta da cidade. Labradores, poodles, pit bulls e simples vira-latas estão em toda parte: parques, praças, shoppings, elevadores de condomínio e até restaurantes. A proporção é de um cão com dono para cada seis habitantes. Todos os números relacionados a eles são grandiosos. As 6 000 pet shops paulistanas faturam 720 milhões de reais por ano, e só em 2007 a cachorrada consumiu 255 000 toneladas de ração. Dentro desse universo que não pára de crescer, respeitar as regras da civilidade é fundamental para que a convivência dos bichos com os humanos não seja desastrosa. Veja São Paulo ouviu doze especialistas em comportamento animal e consultoras de etiqueta para listar os dez mandamentos do dono educado. São dicas de como você deve se comportar para que seu cão se comporte

1) Cachorro não é gente. Não o trate como tal.

A empresária Sandra Habib. 400 coleiras para Charlie

“Charlie me acompanha no trabalho, nas viagens e nos restaurantes que freqüento, como D.O.M., A Figueira Rubaiyat e Vecchio Torino”, conta a empresária Sandra Habib, referindo-se ao seu west highland white terrier, raça tão chique quanto os lugares a que ela vai. Um filhote desses custa entre 3 000 e 4 000 reais. “Ele é muito educado, fica praticamente invisível nesses locais”, diz ela, acrescentando que acha “ridícula essa história de tratar animal como filho”. É claro que um mimo ou outro não escapa: Charlie tem uma dieta balanceada (não come ração, só alimentos sem sal e sem tempero) e é dono de uma coleção de mais de 400 – 400! – coleiras, algumas delas de grifes como Louis Vuitton, Gucci e Hermès. Para quem pode e gosta, não há nenhum problema em enfeitar o bicho com coleiras riquíssimas ou chamá-lo de “filho”, mas desde que se tenha consciência de que um cão tem necessidades muito diferentes das de um humano. O único ponto em comum é que os cachorros, assim como as crianças, precisam de limites bem estabelecidos para ser educados. “Quando é tratado como gente, o animal passa a agir como um menino ou menina mimada: desobediente e sem limites”, diz o adestrador Joaquim Borges Filho. Vi-ver com o bicho no colo e fazer todas as suas vontades também é péssimo para a saúde psicológica dele. “Se o cachorro não for acostumado desde filhote a ficar períodos de tempo sozinho, ele criará uma dependência da pessoa de referência e acabará sofrendo de angústia e medo”, afirma a psicóloga e veterinária Hannelore Fuchs.

2) Imponha limites. Há espaço para um líder: ou ele ou você.

Os cães são animais que vivem em matilha. Para eles, a hierarquia é fundamental. Entram em parafuso quando não entendem qual posição ocupam: a de dominantes ou dominados. “Eles têm de ter claro quem é o líder para respeitá-lo”, diz o adestrador Alexandre Rossi. “E vão testar essa liderança no dia-a-dia.” Mostre que é você quem manda. Em geral, eles só obedecem para conseguir o que querem (como um petisco) ou evitar o que não querem (uma bronca). Se ele urinou no chão, não adianta balançar a cabeça e soltar um sonoro e forte “não”. Simplesmente aponte ao cão o local correto e diga “aqui”. Ele fez tudo direitinho? Recompense o bom comportamento com biscoitinhos e elogios. Errou? Repreenda-o. Resista às chantagens emocionais do bicho desde o início, quando ainda é um filhote. “Ao seguirem regras, os cães se sentem felizes, porque isso lhes transmite segurança”, lembra o adestrador e analista comportamental Dennis Martin, membro do British Institute of Professional Dog Trainers. E nada de deixar o cão virar o rei do pedaço. Para não estimular o instinto de dominância do animal, o bicho deve poder circular pela casa, mas tem de saber que há regras a ser respeitadas, como, por exemplo, deitar-se somente na própria almofada, no chão. Nada de dormir na caminha da “mamãe” ou do “papai”.

3) Adestre seu bichinho.

O adestrador Dennis Martin. O treinamento dura de três a seis meses

Aqui vale mais do que nunca a expressão “A educação vem do berço”. A lógica é a mesma usada para as crianças: ninguém se educa sozinho. “O cão precisa ser socializado e civilizado desde filhotinho, e a partir dos 3 meses de idade pode começar a receber os primeiros comandos”, afirma o adestrador Alexandre Rossi. O trabalho de adestramento é feito sempre na presença do dono e pode durar de três a seis meses. Custa entre 40 e 50 reais por aula e não se restringe a ensinar ao bicho truques engraçadinhos para impressionar visitas. O cão só é aprovado quando obedece a, no mínimo, seis comandos básicos, como “junto”, “senta”, “deita”, “vem”, “espera” e “fica”. Com essas habilidades, ele aprende a se comportar diante de outras pessoas, a respeitar ordens e a conviver com estímulos como carro e barulho, por exemplo. Para silenciar o latido incessante de seu jack russel terrier Oscar, a estudante de direito Ana Lucia Germano matriculou-o numa dessas aulas. “Há três meses, ele recebe a visita de um adestrador duas vezes por semana e já está mais tranqüilo”, diz ela. Mas atenção: basta um mês de relaxamento e adeus às boas maneiras conquistadas.

4) A calçada é pública, não privada

Praça José Del Picchia Filho, no Sumaré. O cão suja a grama e sua condutora vai embora com cara (eca!) de paisagem

Ruas não são banheiros a céu aberto para cães, por mais que alguns donos – gente não civilizada, diga-se claramente – insistam nisso. Portanto, não deixe a sujeira do seu cachorro virar armadilha para os pedestres. Recolher o cocô do animal sempre e imediatamente é obrigação prevista em lei e uma questão de saúde pública. Saia de casa munido com um kit de limpeza: pá, saquinhos plásticos e algumas folhas de papel-toalha para limpar tudo sem deixar rastros. E atenção: não vale argumentar que as fezes viram adubo para as plantas, para escapar do serviço sujo. Ao contrário. Parque Villa-Lobos. Lixeiras próprias para dejetosOs dejetos podem facilitar a transmissão de doenças. “Caso o animal esteja com parasitas intestinais, pode transmitir moléstias como a ancilostomose, que você pega se pisar no chão contaminado”, explica o veterinário Mauro Lantzman. Faz parte da natureza do cão deixar rastros de cocô e xixi como cartão de visita para outros animais, mas você pode educá-lo a não poluir as ruas. Não o alimente demais. Quanto mais ração, mais fezes. Incentive-o a usar o “banheiro” de casa antes dos passeios. Caso perceba que o seu amigão se fissurou num poste ou arbusto, dê trancos na guia e puxe-o para longe.

5) Na rua, só com coleira, guia e focinheira (quando necessária).

Sanches e Luciana com a cadela Naja. Documento para provar que não se trata de pit bull

Quer evitar sarna para se coçar? Então não deixe seu animal sair à rua sozinho e, quando passear com ele, use coleira e guia de condução. Previsto em lei, o cuidado evita problemas para ele, para você e para os outros. Raças agressivas e perigosas, como pit bull, rottweiler e mastim napolitano, capazes de ferir e até matar, só podem circular de focinheira e enforcador. A regra vale mesmo para aqueles que, juram os donos, não fazem mal a um mosquito. No último sábado (22), dezenas de cães, inclusive pit bulls, foram flagrados correndo livremente pelo Parque do Ibirapuera. Como sua cadela, da raça buldogue americano, é sempre confundida com um deles, o personal trainer Disnei Sanches costuma sair com o registro geral de Naja no bolso. “Nos parques, os guardas logo vêm cobrando a focinheira”, diz ele. Qualquer que seja a raça, procure soltar os bichos só em locais cercados e destinados para tal, os chamados “cachorródromos”, como o da Praça Buenos Aires e o da Rua Curitiba. Mesmo nesses espaços, não descuide deles. “Machos podem arranjar confusões com outros machos”, adverte o adestrador Dennis Martin. Cadelas no cio enlouquecem até o mais tranqüilo dos cães e, portanto, estão proibidas de sair de casa nesses períodos. Controle bem a guia. “O cachorro deve andar ao lado do dono para não colocar as pessoas da calçada em risco”, diz o adestrador Edison Vieira. Se outro peludo surgir no caminho, mantenha uma distância segura e evite que os cordões dos dois se embaralhem.

Fonte: Veja São Paulo
Imagens de Mario Rodrigues

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