Como funciona o adestramento canino – parte I

Embora os cães tenham ajudado as pessoas realizando trabalhos específicos por milênios, atualmente eles são mais tidos como membros das famílias do que como empregados. De acordo com a American Pet Products Manufacturers Association – Associação Americana de Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação, os donos de animais de estimação dos EUA gastaram 39,5 bilhões de dólares com seus animais em 2005, mais do que o dobro do que haviam gastado em 1994.

Embora isso signifique que os cães sortudos estejam vivendo sua era dourada, o status de membro da família também pode exigir que um cachorro siga certos padrões de comportamento. E, ao contrário do que você pode pensar ao ver a variedade de produtos caninos disponíveis, os cães não são pessoas pequeninas e peludas. Eles têm sua própria maneira de pensar e fazer as coisas. Milhares de cães são entregues a abrigos de animais todo ano, ou permanentemente relegados a um cercadinho no quintal dos fundos, pelo simples fato de agirem como cachorros.

É possível que cães e pessoas vivam juntos em harmonia, mas isso requer que os donos façam o esforço de atravessar a barreira que existe entre as duas espécies e adestrar seus cachorros para que se comportem de maneira apropriada na sociedade humana. Há muitas maneiras diferentes de adestrar cachorros e vários adestradores prontos para dizer que a maneira deles é a única maneira “certa”, mas a verdade é que há inúmeros métodos que funcionam. A principal diferença entre eles é a rapidez com que funcionam e o quão prazerosos são para o cachorro e seu dono.

Neste artigo, vamos explorar a história e as idéias por trás da maioria dos métodos de adestramento canino e falar sobre um dos métodos mais populares atualmente: o adestramento com clicker.

Aprendendo teoria

O adestramento canino costuma ser baseado no condicionamento operante. O primeiro cientista a definir este conceito foi B. F. Skinner, que estudou o trabalho do fisiologista russo Dr. Ivan Pavlov sobre o comportamento animal. No estudo revolucionário de Pavlov, os cães aprendiam que um estímulo (no caso, um sino) significava que era hora de receberem comida. Começando com duas coisas que estão naturalmente associadas (salivar e comer), Pavlov adicionou um terceiro componente ao tocar a campainha antes da alimentação. Após alguns testes, os cachorros aprenderam a associar o sino ao ato de serem alimentados e salivavam ao ouvir o som do sino, prevendo a presença da comida, mesmo ela não estando presente naquele momento.

Como funciona o adestramento canino

Famoso estudo de Pavlov

Como os cães começam a salivar naturalmente quando recebem comida, a comida é um estímulo não-condicionado. Não é necessário condicionamento ou adestramento especial para fazer o cão salivar, o que é uma resposta não-condicionada. Por outro lado, um sino tocando não costuma fazer com que cães salivem, sendo necessário condicioná-los para que associem um sino ao ato de serem alimentados. Assim, o sino é um estímulo condicionado. A nova reação do cão é um reflexo ao estímulo e é uma resposta condicionada.

Vários de nós vemos isso com nossos próprios cães, quando eles têm crise de latidos ao ouvirem a campainha, algumas vezes até com o som de uma campainha na televisão. Neste caso, o cachorro foi condicionado a associar o estímulo da campainha à iminente chegada de um estranho.

Ao vermos luzes piscando ou ouvir uma sirene atrás de nós enquanto dirigimos, podemos ficar tensos automaticamente e nossa freqüência cardíaca pode se elevar. Fomos condicionados a associar o som de sirenes à experiência desagradável e estressante de receber uma multa. Esse é o condicionamento clássico. Tanto os animais quanto nós podemos aprender a relacionar dois eventos e responder ao primeiro prevendo o segundo. Tal tipo de aprendizado é passivo e involuntário, acontecendo sem que o aprendiz faça qualquer coisa (e, muitas vezes, sem que ele perceba).

Enquanto o trabalho de Pavlov estudava uma reação reflexa a um estímulo condicionado, Skinner interessou-se em criar uma reação de comportamento específica a um estímulo através da introdução de um reforço. Um reforço tanto pode ser uma recompensa quanto uma punição. Uma recompensa é qualquer coisa que aumente a freqüência de uma ação. Já uma punição trata-se de qualquer coisa que diminua tal freqüência.

Quando somos recompensados por um comportamento específico, provavelmente iremos repetir tal comportamento; assim como quando somos punidos, provavelmente iremos parar esse comportamento. Esse tipo de aprendizado é ativo e voluntário, ou seja, depende das ações de quem está aprendendo.

Como a definição de um reforço depende da sua eficácia, é importante lembrar que o que é uma recompensa para uma pessoa pode não ter importância para outra, deixando de ser uma recompensa. Da mesma maneira, o que é uma recompensa em um contexto pode não ser em outro.

Caixa de Skinner simples
Um rato em uma caixa de Skinner simples

Skinner demonstrou que tanto os animais quanto as pessoas manteriam certos comportamentos se recebessem uma recompensa.

Em seus experimentos com ratos e pombos, Skinner mostrou que os animais podiam aprender a pressionar uma alavanca para receber uma recompensa em forma de alimentos. Quando os animais foram apresentados à caixa de testes pela primeira vez, eles se moviam nela de forma aleatória. Então, quando acidentalmente apertavam a alavanca, uma bolinha de ração era liberada, o que fez com que aprendessem rapidamente a apertar a alavanca para obter uma bolinha. Ele também moldou comportamentos mais complicados ao reforçá-los por etapas. Skinner chamava essa abordagem de “condicionamento operante”, já que o comportamento do animal operava no ambiente (pressionar a alavanca) como uma resposta ao resultado esperado (obter alimentos como recompensa).

Recompensar para encorajar bom comportamento e punir para desencorajar o comportamento ruim é algo que a maioria de nós faz de maneira instintiva, trata-se de bom senso. O condicionamento operante já tinha uma longa história no adestramento de animais mesmo antes de Skinner lhe dar um nome. O Coronel Konrad Most, que publicou “Adestramento canino: um manual”, em 1910, usava vários dos mesmos princípios que Skinner estudou, só que décadas antes dele tê-los descrito. Os métodos de treinamento do Coronel Most parecem um tanto quanto cruéis para os padrões atuais, mas muitos o consideram como o pai do adestramento canino moderno. Most e outros adestradores usavam as recompensas e punições para moldar e reforçar o comportamento desejado.

A seguir, vamos ver como os reforços são utilizados no adestramento de animais.

Fonte: Hannah Harris, traduzido por HowStuffWorks Brasil.

Leia também: Como funciona o adestramento canino – parte II, III, IV e V.

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